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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Blitz



Terça-feira, dia 25

É recebida pela polícia uma denúncia anônima que informava sobre um Gol vinho, quase “zero”, carregado com alguns pacotes de cocaína, e que entraria na região oeste da cidade, possivelmente na tarde do dia seguinte.
As autoridades imediatamente organizam uma blitz no local, de modo que, já na hora do almoço, policiais estivessem às margens da rodovia, próximos à entrada da cidade, conhecida por ser rota de passagem de caminhões e veículos que traziam cocaína da Bolívia.
Enquanto isso, outros policiais se postaram quilômetros à frente, a fim de comunicar aos colegas a passagem de veículos suspeitos.
Já no fim da tarde, os policiais da blitz são comunicados de que dois veículos com aquelas características estão passando pela estrada com destino à cidade.
— Vamos parar os dois, então. — Informa o chefe da equipe.
Em seguida, o primeiro veículo chega. É dirigido por Zé Henrique, um homem negro de cabelos rastafári; ouve reggae no último volume e tem vários pacotes no banco de trás e no porta-malas...
— Fala, meus irmão, o que é que manda?
O chefe dos policiais chama um dos colegas que abordaria o sujeito e recomenda:
— Com esse cabelo, esse palavreado, ouvindo reggae no último volume? Pode meter bronca nessa revista...
Em seguida o segundo veículo também encosta na pista. Em seu interior, dois rapazes e uma moça.
— Tudo bem, seu policial, alguma coisa?
Mais por praxe do que por acreditar que encontraria algo ali, outro policial pediu documentos e revistou superficialmente o veículo.
— Pra onde estão indo? — pergunta.
— Somos colegas de faculdade, estamos saindo do trabalho e vamos para a biblioteca, sabe como é que é...
— Entendo, tudo bem, podem ir.
Enquanto isso, até o motor do carro de Zé Henrique era revistado. Os pacotes no banco de trás e no porta-malas já tinham sido verificados: eram pares de sapatos que ele alegara ter comprado para revender. Comprovara tudo com notas fiscais.
Apenas vinte minutos depois, conseguiu ser liberado. Olhou no relógio: eram 17:30.

Mesmo dia, 19:00

Os três estudantes estacionam o Gol em uma garagem e descem do veículo, esfuziantes:
— Fantástico, cara, que idéia! — entusiasmou-se um dos rapazes.
— Pois então cumprimentem o gênio aqui!” — complementou o motorista.
A garota entra em casa e liga o som; nesse meio tempo, os outros dois abrem o porta-malas e retiram o estepe; dentro dele, estão escondidos alguns pacotes de cocaína, dinheiro sujo e certo nas próximas semanas...
É nessa hora que a campainha toca. Eles se agitam.
— Será a polícia??
— Fiquem tranqüilos — acalma a garota, verificando pelo olho mágico — é só a nossa isca.
Ela abre a porta. Zé Henrique entra.
— E aí brôs, manêro hein?!
— E aí, maluco, quem mandou ter cara de malandro?
— Só porque eu sou neguinho!...
— Isso não é nada. Pior é o reggae no último volume e esse rastafári feito por encomenda. Ficou esquisito, viu?
E o segundo velho comparsa, complementou:
— Pois é, chegado, fazer o que se você se encaixa no estereótipo de bandido? O preconceito é cruel, mas a gente tem é que se aproveitar disso, não é não?...

6 comentários:

  1. Muito bom Glauber! O preconceito ajudou os bandidos na cara dura. Faz pensar.. :D

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  2. Nossa Glauber...intrigante!

    obrigada por aparecer comentando uma postagem minha no blog BDE.
    bjs incessantes!

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  3. Mas é arriscado, vai que o polícia não é racista e revista tudos eles?

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  4. texto bem escrito. faz agente ir até o final bem curioso e curtindo. abraço meu amigo.

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  5. boa idéia... o mão branca vai gostar. hehehe.

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