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sexta-feira, 15 de abril de 2011

José Alencar - herói ou homem comum?

"O mineiro só é solidário no câncer". Essa enigmática frase, atribuída por alguns a Otto Lara Resende e a outros a Nelson Rodrigues, que a usou em uma peça, remeteu-me a batalha de José Alencar contra o câncer, e ao apoio integralmente emocional que o político recebeu da população e da imprensa. Podemos, contudo, ampliar as fronteiras geográficas e sociais da frase em questão: entendo que o ser humano em geral é solidário com os demais em situação de grande sofrimento, e aí incluímos tanto as tragédias naturais que afligem populações inteiras de uma vez só, como a luta de pessoas amigas ou famosas contra determinada doença.

O sofrimento diminui a diferença entre as pessoas. Doenças e dramas sérios são capazes de aproximar ou reaproximar tanto antigos desafetos como pessoas desconhecidas - vide a quantidade de doações feitas às vítimas anuais de enchentes no Brasil; a iminência da morte faz com que cada um releve o mal feito pelo outro, ambos querendo apagar antigos rancores e pendências emocionais. Na psicologia, chamamos isso de "fechar a Gestalt", que, em suma, seria como fechar de vez um ciclo. No caso de vítimas de desastres naturais, desconhecidas para muitos, tende-se a associar o sofrimento do outro com o de si mesmo: e se fosse comigo?

O que sucedeu com a opinião pública a respeito da luta do ex vice-presidente José Alencar ilustra bem esse fato. Embora poucos dos milhões de habitantes do país o conhecessem pessoalmente, seu cargo e a visibilidade política que evidentemente tinha o colocavam como pessoa quase íntima da população. Sua luta contra a doença, no entanto, em nada difere do que a maioria das pessoas faria nessa situação: lutar com todos os meios para preservar a própria vida. Muitas pessoas sucumbiriam sem demora, não necessariamente pela resistência biológica, mas pela falta de condições financeiras para se tratar. José Alencar fez 15 cirurgias no decorrer de quase duas décadas, inclusive no exterior. Aos poucos tornou-se um herói pela vida; não desdenho de seu sofrimento, mas é mais fácil tornar-se herói quando se tem condições financeiras para bancar décadas de tratamento e ter a luta pela vida divulgada emocionalmente dia a dia pela imprensa.

Essa verdadeira "santificação" já foi vista uma década atrás, quando Mário Covas também enfrentou durante alguns anos a mesma doença que o recém-falecido Alencar. Embora ambos tenham sido políticos tidos como honestos, e de fato jamais possam ser comparados a ícones da desonestidade e da má política como Paulo Maluf ou Joaquim Roriz, também não podem ser alçados a modelos irrestritos de conduta. Covas chegou a brigar com manifestantes na rua e José Alencar, embora tenha dirigido sua vida política de forma discreta, sem percalços, manchou sua reputação ao se negar a fazer um exame de DNA, que comprovaria ou não a paternidade de uma professora já aposentada. Exame esse postergado desde 2001. Seria o medo da desonra, a que o político se referiu algumas vezes nas últimas semanas de vida? Ter um filho fora do casamento, no entanto, para mim é menos desonroso que renegá-lo anos a fio. E nunca é desonra reconhecer deslizes do passado.

A luta pela vida e a serenidade pela proximidade da morte são atitudes que devem sim ser louváveis, mas de forma alguma apagam os erros e equívocos das pessoas durante sua vida. Tampouco se trata de heroísmo, como relatado por setores da imprensa. Ser herói é sacrificar-se pelos outros, como o fez o policial que ajudou a deter o assassino dos adolescentes em Realengo, os bombeiros em situações diversas de salvamento, os funcionários japoneses que entram na usina de Fukushima para avaliar os riscos para a população, ou alguém que luta com o bandido para proteger a pessoa amada.


E então: ...herói ou um homem comum?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Catetinho - Gama (DF)



O Catetinho foi concebido para abrigar o presidente JK durante a construção da nova capital. Seu projeto foi rascunhado por Oscar Niemeyer em um guardanapo, e a construção, toda em madeira, demorou apenas dez dias. O local escolhido foi uma antiga fazenda, onde também foi construída uma pista de pouso. O nome Catetinho foi uma sugestão do compositor Dilermando Reis, em alusão ao Palácio do Catete, sede do governo federal na época. A construção - erguida em 1956 - era formada por alguns quartos, um exclusivo para o presidente e sua esposa, e os demais para autoridades ou visitantes, além de um gabinete, onde JK despachava e se reunia com os engenheiros responsáveis pela construção de Brasília. Juscelino era fã de serestas e da bossa nova, e recebeu visitas de vários artistas no Catetinho, dentre eles Vinicius de Moraes e Tom Jobim, que criaram, após visitar uma mina d' água nas proximidades da construção, o clássico "Água de beber" (do refrão, "água de beber, camará").

O museu preserva vários móveis originais, e onde não foi possível contar com tais objetos, procurou retratar o ambiente da década de 50 através de aquisições em antiquários. Os quartos usados por JK e autoridades mantém seus móveis originais; um dos quartos usados originalmente para receber hóspedes tornou-se uma espécie de memorial dos artistas que ali visitaram, com fotos e revistas da época. Atrás do Catetinho, ergue-se um prédio menor, também em madeira, originalmente usado como lavanderia, área de serviço e cozinha. Parte das instalações mantem-se fiel ao original, em outras áreas se veem várias fotos antigas do local.


Ao redor do Catetinho ergue-se um belo bosque, ainda com a mina que inspirou a criação da já citada "Água de beber", além de uma caixa d' água usada na época.



Quarto de JK

Gabinete de JK


Vinicius de Moraes e Tom Jobim no Catetinho


Um dos quartos de hóspede, hoje um memorial para os visitantes artistas. O violão era do seresteiro Dilermando Reis.


A mina que inspirou "Água de beber"



Cozinha



ENDEREÇO: BR 040, Km 0 - Gama (parte sul do DF)


TELEFONE: (61) 3338-8807 / (61) 3338-8803


HORÁRIO DE VISITAÇÃO: terça a domingo, de 9 às 17 horas


ESTACIONAMENTO: gratuito


ENTRADA: gratuita