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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Ativistas x Cientistas


O Brasil está entrando em um caminho perigoso: movido pela inércia do Judiciário e pela corrupção que campeia o Executivo e o Legislativo, a população resolveu não esperar e fazer justiça com as próprias mãos.
O problema é o que cada um entende como justiça.
Nessa semana, dezenas de ativistas pelos direitos dos animais invadiram um laboratório particular legalmente credenciado e roubaram 178 beagles que ali estavam a serviço da ciência; junto com os animais, destruíram também documentos e equipamentos. A alegação era a de que o laboratório torturava os animais e de que o Ministério Público não se pronunciava a respeito.
A primeira vista, é fácil ficar do lado dos ativistas. No entanto, basta um pouco de discernimento e de pé no chão para perceber que a atitude deles prejudicou até mesmo a causa que apoiavam, a de que o Laboratório Royal maltratava os bichos. Agora, sem os animais e os documentos, provavelmente o processo (penal?) será extinto por falta de provas.
Pergunto-me também se o laboratório tivesse convocado cientistas e simpatizantes para fazer frente a invasão. Ou seja: em vez de o Judiciário definir a questão, tudo pareceria se resolver com os grupos se digladiando. Mais Idade Média, impossível.
Não sou especialista em biologia e por isso não posso afirmar se é mesmo possível substituir os animais em toda e qualquer pesquisa. Particularmente, creio que não: programas de computador não me parecem capazes de prever as nuances de cada substância inoculada em um organismo vivo. Os mamíferos em geral são escolhidos para experiências em laboratório justamente por causa disso, visto que sua biologia interna é muito parecida com a dos humanos: todos têm sistemas respiratórios, circulatórios e reprodutivos com os mesmos órgãos que as pessoas.
Em todos os portais de notícias a invasão foi um dos principais assuntos da semana. No Yahoo, que eu costumo acompanhar mais por causa de meu e-mail, foi fácil perceber que cerca de 70% das pessoas que comentavam a notícia apoiavam os ativistas; questionados por alguns dos 30% restantes sobre como os cientistas pesquisariam novos medicamentos sem os animais, as respostas foram estarrecedoras: que se usassem então presidiários.
Embora certamente muitas pessoas não sejam dignas de serem tratadas como humanos, não é rebaixando-as ainda mais que a humanidade evoluirá. Uma das últimas pessoas a levar a sério os experimentos com humanos foi o médico nazista Josef Mengele, e a simples palavra “nazista” ao lado de seu nome já nos faz imaginar as consequências de tais experiências. Ou seja, boa parte dos ativistas parece mesmo acreditar que o melhor é que se usem seres humanos para tais experiências, inclusive não se importando com a eventual morte de tais pessoas. Pretendem criar uma nova ordem mundial e boa parte não se importaria em copiar a ideologia eugenista dos nazistas para tanto.
Em suma, estamos bem de ativistas, hein?
A propósito, dois dos beagles já foram resgatados pela polícia. Estavam abandonados, caminhando perto do laboratório.

sábado, 5 de outubro de 2013

Encontro


Você me olha 
E não sabe os séculos que carrego 

Meus olhos negros e a pele cor de terra não disfarçam: 
em algum lugar das arábias surgiram meus antepassados 
Séculos depois, escolheram a península italiana para morada 
estabeleceram-se em Verona, ao norte, 
talvez fugindo de tiranos ou inimigos 

Passaram as gerações 
E veio o século 20 
com suas ditaduras, crises e a primeira guerra mundial 
Os navios europeus atravessam o oceano 
e para o novo mundo trazem os desesperados 
Aportam no litoral do Brasil 
Muitos seguem para o interior, a procura de um clima familiar. 
Minas recebeu vários, incluindo os meus 
A terra das montanhas promoveu o encontro entre avós e pais 
E, por fim, estou aqui, no coração do país 
Olhando seus olhos castanhos que também carregam histórias antigas 

Seu passado é ainda mais cigano 
e Deus teve algum trabalho para moldar-lhe o corpo e o espírito 
Minha Afrodite: 
Moçambique, Palestina, Itália, também viram seus antepassados 
até se encontrarem em Portugal 
No fim, talvez os mesmo navios que carregaram os meus também trouxeram os seus 
Quem saberá? 
Nossos antepassados podem ter sido parceiros nas cartas, nas danças e festas 
Quiçá tiveram pequenos namoros a bordo ou refletiam juntos sobre o futuro, 
fitando o mar até se despedirem no porto 

Os seus escolheram como morada Belém e São Luís 
e depois vieram como tantos para o cerrado de Brasília 
Finalmente nos encontramos aqui, nesse lugar improvável, 
porque nem sempre as belas histórias começam em belos cenários. 
Nessas horas, para que lembrar que carregamos a história da humanidade? 
Como todos, não somos filhos apenas de nossos pais 
Assim foi o caminhar até aqui 
E o brilho que está em ossos olhos, sinaliza: começa agora a nossa história.