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sábado, 20 de dezembro de 2025

Maremoto



Forte. Resoluto. Enfrentou meu pai o sepultamento da mãe, que há tantos anos sofria com o Alzheimer. 

Eu a amava, e como neto sofria, chorava às vezes, escondido, ao lembrar que minha grande protetora e leitora de histórias na infância de mim já não se lembrava.

Meu pai, triste, claro, com a situação, mas sempre procurava pensar nas coisas práticas da vida, qual o melhor preço nas farmácias, o melhor tratamento, e por fim como lidar com a perda inevitável.

Até aquele momento.

As palavras do padre.

O último beijo na testa.

A tampa do caixão separando-a pra sempre do mundo dos vivos.

A caminhada até a sepultura.

Seu corpo voltando à mãe-terra e

a terra jogada dentro do túmulo.

O trabalho rápido e respeitoso dos coveiros.

Os últimos abraços dos presentes.

No carro, coloca a chave na ignição e em seguida deita sobre o volante.

Soluça, chora, como um tsunami atingindo uma praia. E me surpreendo.

Era como um maremoto onde eu julgava não haver água.


Imagem feita no aplicativo Imagine

 

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