Você me olha
E não sabe os séculos que carrego
Meus olhos negros e a pele cor de terra não disfarçam:
em algum lugar das arábias surgiram meus antepassados
Séculos depois, escolheram a península italiana para morada
estabeleceram-se em Verona, ao norte,
talvez fugindo de tiranos ou inimigos
Passaram as gerações
E veio o século 20
com suas ditaduras, crises e a primeira guerra mundial
Os navios europeus atravessam o oceano
e para o novo mundo trazem os desesperados
Aportam no litoral do Brasil
Muitos seguem para o interior, a procura de um clima familiar.
Minas recebeu vários, incluindo os meus
A terra das montanhas promoveu o encontro entre avós e pais
E, por fim, estou aqui, no coração do país
Olhando seus olhos castanhos que também carregam histórias antigas
Seu passado é ainda mais cigano
e Deus teve algum trabalho para moldar-lhe o corpo e o espírito
Minha Afrodite:
Moçambique, Palestina, Itália, também viram seus antepassados
até se encontrarem em Portugal
No fim, talvez os mesmo navios que carregaram os meus também trouxeram os seus
Quem saberá?
Nossos antepassados podem ter sido parceiros nas cartas, nas danças e festas
Quiçá tiveram pequenos namoros a bordo ou refletiam juntos sobre o futuro,
fitando o mar até se despedirem no porto
Os seus escolheram como morada Belém e São Luís
e depois vieram como tantos para o cerrado de Brasília
Finalmente nos encontramos aqui, nesse lugar improvável,
porque nem sempre as belas histórias começam em belos cenários.
Nessas horas, para que lembrar que carregamos a história da humanidade?
Como todos, não somos filhos apenas de nossos pais
Assim foi o caminhar até aqui
E o brilho que está em ossos olhos, sinaliza: começa agora a nossa história.
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