Senta na cama, vê algumas cenas da televisão e a desliga com o controle remoto. Retira as balas do revólver e as analisa uma a uma. Elimina uma delas e se detêm nas outras cinco. Recoloca-as no tambor, gira e fecha. Prepara-se para engatilhar, mas muda de idéia. Olha para o lado. Vê o frigobar e pega uma cerveja. Toma apenas um gole. Liga de novo a televisão. O filme pornô que se passava em uma casa de campo o faz reparar melhor no quarto onde se encontrava: piso de mármore, frigobar cheio, dois quadros com casais se amando (ou apenas transando?). O motel recém-inaugurado também oferecia uma gama de brinquedos eróticos, cujo catálogo se encontrava ao lado da cama; “Peça pelo número!”, estava na capa. Tomou mais um gole da cerveja e voltou a desligar a televisão. Engatilhou o revólver e fez a mira em uma parede. Abaixa novamente a arma e a deixa sobre a cama, a sua frente. Mais uma vez retira as balas, apreciando os detalhes de cada uma. Põe apenas uma delas no tambor e o gira, fechando-o rapidamente.
Lembrou-se das vítimas estúpidas da roleta da morte.
Não, ele sabia bem o que queria.
Não era preciso, mas, como um símbolo de que sua decisão era concreta, preencheu os outros espaços do tambor com as balas restantes.
Dirigiu-se para a porta do quarto. Visualizou pela última vez o corpo da ex-noiva que, a contragosto, o acompanhara ao motel para conversar, negando mais uma vez o recomeço da relação. No seu peito esquerdo, a marca de sangue sinalizava o local de entrada do projétil.
Retirou do pescoço ainda quente da jovem a corrente de ouro com o pingente em forma de letra “M”, que ele dera de presente no dia do noivado, junto com a aliança, que Marcela já não usava.
Voltou para a cama. Retirou a bala já deflagrada dos lençóis e a examinou, como as outras. O pequeno cilindro dourado, sem o projétil que matara Marcela, foi colocado delicadamente em pé, no criado mudo. Em seguida mira o revólver em um quadro da parede, como a criar coragem. E rapidamente, voltou a arma para a própria cabeça. No átimo seguinte, apenas lamentou que o cartucho vazio de sua bala não fizesse companhia a outra.
Era, enfim, a última tentativa de unir-se a Marcela.
Belo conto, gostei do estilo e da história, bem real.
ResponderExcluirDaria um belo curta!
ResponderExcluirParabéns!