Contos, crônicas, poesia visual, relatos de viagens, fotografias, eventos literários... um pouco de cada uma das minhas paixões.
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sábado, 7 de outubro de 2023
Torre de televisão - Brasília (DF)
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
O muro
terça-feira, 1 de agosto de 2023
O gato
O
filhote perde-se da mãe após a chuvarada que inundou casas e ruas da cidade.
Abrigou-se sozinho em um muro baixo. Dois dias depois, faminto, ouviu passos em
sua direção. Um homem jovem se aproximou e, com cuidado, o pegou e o posicionou
na altura do peito. O gatinho olhou para cima e viu o brilho nos olhos de seu
salvador. Seus olhos felinos também brilharam.
Pouco
depois, o rapaz – de nome Firmino -, deixou-o em uma caixa, no quarto do hotel
onde se hospedara. Com um jaleco branco,
pegou um ônibus e se dirigiu até um asilo nos limites da cidade, onde iniciaria
seu primeiro dia de trabalho como enfermeiro.
...................................................................................
—
Firmino é o nome dele? — questionou um dos velhinhos.
—
É sim, capitão. — Respondeu uma mulher.
—
Parece bem paciente.
—
É mais fácil nós sermos os pacientes — e riu o pequeno grupo de velhinhos que
observava o enfermeiro da sala de televisão.
—
Vamos chamá-lo.
No
asilo viviam 30 idosos, a maioria originária da própria região. Alguns
abandonados pela família, outros se mudaram para lá por vontade própria, ao se
verem sozinhos. O mais novo possuía 72 anos; a mais velha, 99, ou 102, segundo
a contagem extraoficial da própria senhora, chamada Luana.
Foi
ela própria que percebeu preocupação nas feições de Firmino.
—
É verdade, dona Luana. Vim de outra cidade, estou no Hotel Trindade. Já me
avisaram que mês que vem o aluguel aumentará.
—
E porque não vem para cá? — perguntou capitão, Antonio, na verdade.
—
Sim. — confirmou Luana. — o asilo abrigou mais gente no passado, há quartos
desocupados por aqui.
—
Conversarei com doutora Carla. A ideia de vocês me parece boa.
No
dia seguinte, Firmino fechou a conta do hotel e se mudou, com duas malas e o
gato, para uma casa desocupada do asilo. O aluguel sairia bem mais barato, e
ele não gastaria com o ônibus durante a semana.
...................................................................................
—
Que gracinha de gato!
—
Gosta de animais, dona Sílvia?
—
Sim, fui criada na roça, minha família criava vários animais. Quando meu marido
vendeu a fazenda e nos mudamos para a cidade, trouxe comigo alguns cães. Só
deixei de ter animais quando me vi sozinha. Meu marido e dois filhos morreram.
Preferi vir para cá. Tenho a companhia de outras pessoas da minha idade, seria
melhor que ficar só.
—
Tem razão. Tome aqui seus remédios. Vou ver dona Luana agora.
—
Nossa matriarca...
—
É sério?
—
Sim, foi a primeira pessoa a morar aqui. Esses corredores a cercam há 27 anos.
—
A saúde dela está fragilizada.
—
Pois não sei? Está com 99 anos. Ou 102, como prefere, ninguém sabe o certo.
Tenho 80 e me sinto como filha dela.
—
Já se conheciam?
—
Sim, há muitos anos. Cheguei a estudar com os filhos dela. Os meninos morreram
jovens ainda, em um acidente de carro. Voltavam de uma festa, justamente da
cidade vizinha.
—
Ela se recuperou da perda?
—
Acho que a morte de alguém é como uma casa soterrada... Sabia que em Pompéia
encontraram poemas eróticos e pichações em paredes que estavam cobertas pela
lava do Vesúvio? As pichações não derrubaram as paredes das casas, mas a
marcaram pelo resto da eternidade... — filosofou.
—
Sim, concordou Firmino e saiu em seguida para ver Luana.
O
gatinho, a que começaram a chamar de Quico, seguiu o dono, mas aos poucos criou
amizade com todos os funcionários e pacientes, aceitando receber o carinho de
todos.
—
Ei, Quico!
—
Dona Luana — estou começando a sentir ciúmes do gato.
—
Hihi... entenda Firmino. Adoro esconder minhas mãos gélidas entre os pelinhos
dele, me aquecem. Seria difícil fazer isso com você.
O
calvo Firmino riu da gracinha.
—
Fique à vontade com ele. Quico já foi vacinado e não fará mal a ninguém. Sílvia
comentou que está meio abatida...
—
Aquele menina...
O
enfermeiro, riu, discreto.
—
Ah, para você é uma vovozinha como todos nós. Mas nossa diferença é grande.
Lembro bem quando ela, mocinha ainda, começou a estudar com meus filhos. Depois
ela saiu da cidade para fazer faculdade. Meus filhos não tiveram essa chance.
—
Sim, ela comentou que foi colega de seus filhos.
—
Ei, Firmino, cuidando de nossa Cleópatra. — aproximou-se o capitão.
—
Olá, capitão. Que elogio hein, dona Luana?
—
Não se engane, Firmino. Esse traste me chama Cleópatra não por causa de beleza;
me acham uma múmia, né Antonio?...
—
Seu Antonio, que indelicado.
—
Na verdade estamos todos em situação parecida, Luana — completou Antonio, fazendo
um carinho nos cabelos da mulher. — Firmino, se precisar de mim, estarei no
quarto do Zeferino.
—
Zeferino não é o comunista que foi preso na época do regime militar? —
questionou Firmino à mulher.
—
Esse mesmo, Firmino. Diz que foi torturado, inclusive.
—
É estranho vê-lo como amigo de um militar.
—
Sim. Mas capitão diz que nunca participou da repressão. Ele é engenheiro, trabalhava
no corpo técnico do Exército. Esteve às voltas com cálculos estruturais de
pontes e viadutos, e morou a maior parte do tempo no interior. A última obra de
que participou foi a ponte Rio-Niterói, mas ele entrou para a reserva antes de
vê-la pronta.
Saindo
da companhia de dona Luana, Firmino e Quico se dirigem até o quarto de
Zeferino. Viu os dois amigos jogando xadrez.
—
Eu queria uma câmera para gravar isso: a amizade de um militar com um
comunista.
Riram
os três.
—
Antonio me garantiu que nunca participou da repressão. Ele é engenheiro,
construía estruturas. Nunca destruiu nada.
—
Verdade. Me aposentei um pouco antes da inauguração da Rio-Niterói. E vim para
essa cidade.
—
Já conhecia aqui?
—
Minha esposa era daqui. Com a morte dela, resolvi continuar. Lugar tranquilo,
de clima ameno, era tudo o que queria. Não tivemos filhos e me vi sozinho.
—
E o senhor, Zeferino? Qual sua história? — perguntou o enfermeiro.
—
Sou do Rio mesmo. Fui preso na década de 60 pelos militares. Tive a sorte de
ser solto após uma sessão de tortura. Resolvi que não queria essa vida de fuga
e risco. Troquei a identidade e vim para a casa de um tio; passei a trabalhar
no Hotel Trindade, que pertencia à ele.
—
É o hotel em que estava.
—
Sempre foi o melhor daqui. Mas ele morreu, e a faculdade trancada de História
não me ajudou na administração do lugar, então acabei vendendo. Montei um
comercinho que durou poucos anos. O que me salvou foi uma pensão do Estado.
Como também já estava sozinho, aliás, sempre fui sozinho, acabei vindo para cá.
—
Pronto, aqui estão seus remédios. Quico, venha. Vamos agora ver Afonsinho.
Firmino sai do quarto, mas o gato permanece no quarto de Zeferino, mirando
Antonio.
—
Xeque-mate. — perdeu, Zeferino. Vou agora tomar um banho.
Antonio
se despede de Zeferino. Quico o segue. Ao ser visto pelo velho militar, é colocado
no colo e levado para seu quarto.
—
Ganhou um fã, Antonio? — perguntou Luana, de bom humor novamente.
O
velhinho riu e entrou no quarto com o gato.
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—Tudo
bem, Afonsinho?
—
Não sei... Tenho uma sensação estranha.
—
Nas pernas amputadas?
—
Você fala do nervo fantasma? Não é isso. Doutora Carla já tinha me explicado.
Já me acostumei com essa sensação de sentir as pernas abaixo dos joelhos. É por
causa dos nervos, né?
—
Sim. O que foi então?
—
Sei lá. Parece que algo vai acontecer. Mas em um asilo em que o mais novo já
passou dos setenta, acontecem coisas com frequência, não é? — Riu,
irônico.
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No
dia seguinte, Firmino cumpria seu plantão de madrugada, quando Zeferino chegou
a seu posto.
—
Tudo bem?
—
Firmino, acho melhor dar uma olhada no capitão.
Firmino
chega ao quarto de Antonio. Vê Quico sentado ao pé da cama, olhando o idoso,
que parece muito silencioso.
O
enfermeiro tenta acordá-lo e não consegue. Afere a pressão, sente o pulso e
abre seus olhos, para verificar as pupilas. Liga para doutora Carla, que também
morava em uma casa no terreno do asilo. Mas já comunica ao idoso:
—
Sinto muito, Zeferino. O capitão se foi.
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A
morte de uma pessoa próxima nos faz refletir sobre a nossa própria morte, que
cada dia se aproxima mais. E em um asilo, esse tipo de reflexão é frequente.
Alguns
dias depois, porém, a serenidade parece ter voltado ao lugar.
—
Qual a média de mortes aqui? — em dado momento pergunta Firmino a Carla.
—
Cinco ou seis ao ano.
—
Mas como sempre chegam pessoas, então a população se mantém na faixa dos 30?
—
Exato. — Ei, e esse gato?
Quico
cruzava a porta. A médica, dona do asilo, até aquele momento ainda não o vira.
—
É meu. O resgatei após aquela tempestade do mês passado. Deve ter perdido a
mãe. Não se preocupe, está vacinado.
O
gatinho passou de volta em frente à sala onde conversavam, e entrou no quarto
de Zeferino.
—
Ei, Quico! Veio me consolar?
O
gatinho aproximou-se do homem, que vestia uma camiseta com a foto de Laika, a cadelinha
russa que orbitou o espaço – estampada.
—
Não se preocupe com a foto, não vai te morder. — e pegou o animal sem resistência
deste.
À
noite, Firmino tenta levá-lo para sua casa.
—
Deixe ele aqui — pediu — eu cuido dele.
—
Tudo bem. Boa noite.
No
dia seguinte, Quico continuou na companhia de Zeferino. Saía do quarto apenas
quando o idoso também saía. Os outros achavam graça da situação.
—
Gatos são assim mesmo. Ele se acha o dono do pedaço, cada hora escolhe uma companhia
diferente. E Firmino que se cuide, se descuidar, é o gato quem o expulsa daqui
— gracejou Afonsinho.
Após
o almoço, a maioria dos idosos tirava uma sesta. Firmino tinha alguns minutos
de sossego nessas horas, e gostava de acompanhar o noticiário. Viu quando Quico
saiu do quarto de Zeferino, sozinho. O velhinho não o acompanhou, como de costume.
Firmino achou estranha a ausência do homem, era o único que ficava na sala de
televisão, geralmente acompanhado de um livro de autor russo. Nos últimos dias,
se deleitava com uma nova edição de Anna Karenina.
Foi
verificar a situação e encontrou na entrada do quarto, no chão, o clássico de
Tolstói caído. Zeferino estava deitado desajeitadamente na cama. Morto.
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No
dia seguinte, ao voltarem do cemitério, Carla chamou Firmino para sua sala.
—
Você me disse que Antonio e Zeferino passaram suas últimas horas de vida com o
Quico.
—É
verdade.
—
Pode não ser coincidência.
—
Você acha que o gato pode estar doente?
—
Não é isso. Veja só. — disse Carla, abrindo a internet em seu computador.
Surgiu na tela uma notícia. — Essa notícia trata de um gato, que vive em um
hospital dos Estados Unidos. Ele vive circulando pelos corredores, e quando
resolve ficar o tempo todo com alguém, geralmente a pessoa morre em menos de
dois dias.
Firmino
franziu a testa. Não sabia o que pensar.
—
Firmino, acho que existe a possibilidade de que as pessoas, ao iniciarem o
processo de morte, emitirem determinados odores, agradáveis para alguns gatos e
só perceptíveis para eles. Talvez seja por isso que Quico escolheu ficar com
Antonio e Zeferino nos últimos momentos de vida deles.
—
É muito estranho, mas faz sentido.
—
Firmino, nossos idosos não sabem desse fato nos Estados Unidos e também não
fizeram essa associação com o Quico. Acho melhor nada falar com eles, para não
criar apreensão se o gato escolher a companhia de alguém.
Firmino
concordou com a médica. E foi com discrição que os dois observaram a súbita
amizade entre Quico e Sílvia, e as consequências de tal fato para a velha
senhora...
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Naquela
noite, já dentro da casa em que ocupava, Firmino distraiu-se com a internet.
Estava só, pois Quico permanecia nos corredores do asilo. No início da manhã, acordou
com barulho de passos miúdos. Era o gato, que entrara no seu quarto, aproveitando
a porta destrancada.
Quico
aproximou-se, querendo o carinho do dono, algo que não pedia há alguns dias.
Encarou Firmino e seus olhos felinos sorriram.
Firmino
fez o mesmo, sem receio. Alguém no quarto também perceberia um sorriso discreto
no rosto do enfermeiro.
Alguns
segundos se passaram.
E
caiu morto: o gato.
domingo, 30 de julho de 2023
Rio de Contas (BA)
Visitamos Rio de Contas em julho de 2023, permanecendo apenas dois dias na cidade, na Pousada Portugal.
Conhecemos apenas a área urbana, espero voltar logo para conhecer as cachoeiras da região.
A história de Rio de Contas é rica e antiga, sendo habitada inicialmente por ex-escravos fugidos, sendo registrada sua existência em 1681.
O lugar foi posteriormente batizado como Pouso dos Creoulos.
Mais tarde começou o grande desenvolvimento da localidade, com a descoberta de ouro, em 1710.
Em 1745, o vice-rei André de Melo e Castro transferiu a sede da vila da atual Livramento de Nossa Senhora (que englobava a atual Rio de Contas) para o Pouso dos Creoulos, sendo a nova localidade a primeira planejada no Brasil. A antiga sede da vila sofria com enchentes frequentes, daí a mudança.
Datam dessa época a construção de edificações ainda hoje presentes, como a igreja matriz, a igreja de Sant`Anna, o antigo fórum (hoje ocupado por secretarias municipais). Outra edificação de destaque, mas mais recente, é o mais antigo teatro da Bahia ainda de pé, o São Carlos, edificado em 1892.
Rio de Contas tem muitos prédios tombados pelo IPHAN (que possui uma sede na cidade) , e lembra muito outras cidades como Pirenópolis, Paraty e Ouro Preto.
Após a decadência da mineração, em 1800 , a cidade viveu um período de decadência , agravada à partir de 1840 quando foi descoberto diamante em Mucugê, fazendo que parte da população se mudasse pra lá.
Em 1885, a vila foi alçada a condição de cidade.
Há algumas décadas sua grande fonte de renda é o turismo, por estar inserida na bela Chapada Diamantina.
Neste vídeo, alguns desses pontos foram mostrados, incluindo fotografias do altar e da pintura de teto da igreja matriz.
quarta-feira, 5 de julho de 2023
sexta-feira, 28 de abril de 2023
El Calafate (Patagônia argentina)
Fica a uns 10 minutos de caminhada do centro da cidade, próximo a Laguna Nimez. Conta a história da Patagônia, através de achados paleontológicos e de informações sobre os indígenas que habitavam a região.
Glaciarum
Glaciar Perito Moreno
Glaciares Upsala e Spegazzini
São outros glaciares que também fazem parte do parque nacional. A contemplação deles se dá através de um passeio de barco, que navega pelo Braço Rico e pelo Canal Upsala. No dia que fizemos o passeio, não foi possível visualizar de perto o Upsala, devido a grande quantidade de icebergs que flutuava a sua frente. Por outro lado, a contemplação desses blocos de gelo, às vezes com tonalidades diversas de azul, é um espetáculo à parte.
Em seguida chegamos ao monumental Spegazzini, onde pude gravar os vídeos abaixo:
quarta-feira, 26 de abril de 2023
Fundação Museu Couros (Formosa-GO)
O prédio da Fundação Museu Couros abriga, além do museu que ajuda a contar a história de Formosa, uma galeria de arte e um pequeno teatro.
Formosa foi uma cidade que desenvolveu-se à partir do comércio de couro, vindo daí o nome da fundação.
O acervo do museu começou a ser reunido em 1988 e em 1995 começou-se o processo de organizá-lo.
A prefeitura cedeu então a antiga casa de garagem para ser a sede do museu.
Em 1998, aconteceu a primeira semana da moagem, e com os fundos arrecadados por esse evento, deu-se início a uma reforma na edificação. Por fim, o museu foi ali inaugurado em dezembro de 2000. No ano seguinte surgiu a galeria de artes e em 2003 foi inaugurado o teatro.
O museu