Prosas e Viagens
Contos, crônicas, poesia visual, relatos de viagens, fotografias, eventos literários... um pouco de cada uma das minhas paixões.
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quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Casa velha da Fazenda Gama (DF)
terça-feira, 1 de outubro de 2024
terça-feira, 3 de setembro de 2024
domingo, 11 de agosto de 2024
quinta-feira, 20 de junho de 2024
Nuvem plácida
Esse pequeno poema foi nspirado a partir de uma viagem pela região de Correntina (BA), onde existem plantações de algodão à margem da rodovia.
A foto é ilustrativa e foi tirada pelo próprio autor, em Brasília.
sexta-feira, 7 de junho de 2024
Leilão
A internet anuncia
Leilão de brinquedos raros
Carrinho de polícia na caixa
Nunca usado
Pintura incólume
nunca viu marcas de terra
De dedinhos infantis
De cal ou tijolo de parede
Década de 50
Uma pequena fortuna
Olho o meu carrinho de polícia do mesmo modelo
Uma sorte ter sobrevivido
A caixa já não existe
Pintura arranhada
Um pneu colado no eixo com durepox
Lembranças de brincadeiras com o pai
Com amigos
Com o mundo
No leilão valeria pouco mais que nada
Para mim, tudo
quarta-feira, 22 de maio de 2024
Santuário de Santa Rita de Cássia, em Cássia (MG)
Aproveito este dia 22 de maio (dia de Santa Rita) para publicar fotos sobre nossa visita a esse santuário, ocorrida mês passado. Era segunda-feira e o local estava bem tranquilo, inclusive com algumas das lojas fechadas; porém, havia um restaurante berto, onde almoçamos.
Em maio de 2022, após quatro anos, foi concluído o maior santuário dedicado a Santa Rita de Cássia no mundo. O local possui mais de 7 mil metros quadrados e se situa sobre uma colina, mirante para a cidade de Cássia, que tem esse nome justamente por causa da santa italiana.
Cássia, no ano 2000, tornou-se cidade-irmã de Cáscia, na Itália, onde nasceu, viveu e morreu Santa Rita, cujo nome de batismo era Margherita Lotti (nascida em 22 de maio de 1381).
terça-feira, 23 de abril de 2024
sexta-feira, 15 de março de 2024
sábado, 7 de outubro de 2023
Torre de televisão - Brasília (DF)
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
O muro
terça-feira, 1 de agosto de 2023
O gato
O
filhote perde-se da mãe após a chuvarada que inundou casas e ruas da cidade.
Abrigou-se sozinho em um muro baixo. Dois dias depois, faminto, ouviu passos em
sua direção. Um homem jovem se aproximou e, com cuidado, o pegou e o posicionou
na altura do peito. O gatinho olhou para cima e viu o brilho nos olhos de seu
salvador. Seus olhos felinos também brilharam.
Pouco
depois, o rapaz – de nome Firmino -, deixou-o em uma caixa, no quarto do hotel
onde se hospedara. Com um jaleco branco,
pegou um ônibus e se dirigiu até um asilo nos limites da cidade, onde iniciaria
seu primeiro dia de trabalho como enfermeiro.
...................................................................................
—
Firmino é o nome dele? — questionou um dos velhinhos.
—
É sim, capitão. — Respondeu uma mulher.
—
Parece bem paciente.
—
É mais fácil nós sermos os pacientes — e riu o pequeno grupo de velhinhos que
observava o enfermeiro da sala de televisão.
—
Vamos chamá-lo.
No
asilo viviam 30 idosos, a maioria originária da própria região. Alguns
abandonados pela família, outros se mudaram para lá por vontade própria, ao se
verem sozinhos. O mais novo possuía 72 anos; a mais velha, 99, ou 102, segundo
a contagem extraoficial da própria senhora, chamada Luana.
Foi
ela própria que percebeu preocupação nas feições de Firmino.
—
É verdade, dona Luana. Vim de outra cidade, estou no Hotel Trindade. Já me
avisaram que mês que vem o aluguel aumentará.
—
E porque não vem para cá? — perguntou capitão, Antonio, na verdade.
—
Sim. — confirmou Luana. — o asilo abrigou mais gente no passado, há quartos
desocupados por aqui.
—
Conversarei com doutora Carla. A ideia de vocês me parece boa.
No
dia seguinte, Firmino fechou a conta do hotel e se mudou, com duas malas e o
gato, para uma casa desocupada do asilo. O aluguel sairia bem mais barato, e
ele não gastaria com o ônibus durante a semana.
...................................................................................
—
Que gracinha de gato!
—
Gosta de animais, dona Sílvia?
—
Sim, fui criada na roça, minha família criava vários animais. Quando meu marido
vendeu a fazenda e nos mudamos para a cidade, trouxe comigo alguns cães. Só
deixei de ter animais quando me vi sozinha. Meu marido e dois filhos morreram.
Preferi vir para cá. Tenho a companhia de outras pessoas da minha idade, seria
melhor que ficar só.
—
Tem razão. Tome aqui seus remédios. Vou ver dona Luana agora.
—
Nossa matriarca...
—
É sério?
—
Sim, foi a primeira pessoa a morar aqui. Esses corredores a cercam há 27 anos.
—
A saúde dela está fragilizada.
—
Pois não sei? Está com 99 anos. Ou 102, como prefere, ninguém sabe o certo.
Tenho 80 e me sinto como filha dela.
—
Já se conheciam?
—
Sim, há muitos anos. Cheguei a estudar com os filhos dela. Os meninos morreram
jovens ainda, em um acidente de carro. Voltavam de uma festa, justamente da
cidade vizinha.
—
Ela se recuperou da perda?
—
Acho que a morte de alguém é como uma casa soterrada... Sabia que em Pompéia
encontraram poemas eróticos e pichações em paredes que estavam cobertas pela
lava do Vesúvio? As pichações não derrubaram as paredes das casas, mas a
marcaram pelo resto da eternidade... — filosofou.
—
Sim, concordou Firmino e saiu em seguida para ver Luana.
O
gatinho, a que começaram a chamar de Quico, seguiu o dono, mas aos poucos criou
amizade com todos os funcionários e pacientes, aceitando receber o carinho de
todos.
—
Ei, Quico!
—
Dona Luana — estou começando a sentir ciúmes do gato.
—
Hihi... entenda Firmino. Adoro esconder minhas mãos gélidas entre os pelinhos
dele, me aquecem. Seria difícil fazer isso com você.
O
calvo Firmino riu da gracinha.
—
Fique à vontade com ele. Quico já foi vacinado e não fará mal a ninguém. Sílvia
comentou que está meio abatida...
—
Aquele menina...
O
enfermeiro, riu, discreto.
—
Ah, para você é uma vovozinha como todos nós. Mas nossa diferença é grande.
Lembro bem quando ela, mocinha ainda, começou a estudar com meus filhos. Depois
ela saiu da cidade para fazer faculdade. Meus filhos não tiveram essa chance.
—
Sim, ela comentou que foi colega de seus filhos.
—
Ei, Firmino, cuidando de nossa Cleópatra. — aproximou-se o capitão.
—
Olá, capitão. Que elogio hein, dona Luana?
—
Não se engane, Firmino. Esse traste me chama Cleópatra não por causa de beleza;
me acham uma múmia, né Antonio?...
—
Seu Antonio, que indelicado.
—
Na verdade estamos todos em situação parecida, Luana — completou Antonio, fazendo
um carinho nos cabelos da mulher. — Firmino, se precisar de mim, estarei no
quarto do Zeferino.
—
Zeferino não é o comunista que foi preso na época do regime militar? —
questionou Firmino à mulher.
—
Esse mesmo, Firmino. Diz que foi torturado, inclusive.
—
É estranho vê-lo como amigo de um militar.
—
Sim. Mas capitão diz que nunca participou da repressão. Ele é engenheiro, trabalhava
no corpo técnico do Exército. Esteve às voltas com cálculos estruturais de
pontes e viadutos, e morou a maior parte do tempo no interior. A última obra de
que participou foi a ponte Rio-Niterói, mas ele entrou para a reserva antes de
vê-la pronta.
Saindo
da companhia de dona Luana, Firmino e Quico se dirigem até o quarto de
Zeferino. Viu os dois amigos jogando xadrez.
—
Eu queria uma câmera para gravar isso: a amizade de um militar com um
comunista.
Riram
os três.
—
Antonio me garantiu que nunca participou da repressão. Ele é engenheiro,
construía estruturas. Nunca destruiu nada.
—
Verdade. Me aposentei um pouco antes da inauguração da Rio-Niterói. E vim para
essa cidade.
—
Já conhecia aqui?
—
Minha esposa era daqui. Com a morte dela, resolvi continuar. Lugar tranquilo,
de clima ameno, era tudo o que queria. Não tivemos filhos e me vi sozinho.
—
E o senhor, Zeferino? Qual sua história? — perguntou o enfermeiro.
—
Sou do Rio mesmo. Fui preso na década de 60 pelos militares. Tive a sorte de
ser solto após uma sessão de tortura. Resolvi que não queria essa vida de fuga
e risco. Troquei a identidade e vim para a casa de um tio; passei a trabalhar
no Hotel Trindade, que pertencia à ele.
—
É o hotel em que estava.
—
Sempre foi o melhor daqui. Mas ele morreu, e a faculdade trancada de História
não me ajudou na administração do lugar, então acabei vendendo. Montei um
comercinho que durou poucos anos. O que me salvou foi uma pensão do Estado.
Como também já estava sozinho, aliás, sempre fui sozinho, acabei vindo para cá.
—
Pronto, aqui estão seus remédios. Quico, venha. Vamos agora ver Afonsinho.
Firmino sai do quarto, mas o gato permanece no quarto de Zeferino, mirando
Antonio.
—
Xeque-mate. — perdeu, Zeferino. Vou agora tomar um banho.
Antonio
se despede de Zeferino. Quico o segue. Ao ser visto pelo velho militar, é colocado
no colo e levado para seu quarto.
—
Ganhou um fã, Antonio? — perguntou Luana, de bom humor novamente.
O
velhinho riu e entrou no quarto com o gato.
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—Tudo
bem, Afonsinho?
—
Não sei... Tenho uma sensação estranha.
—
Nas pernas amputadas?
—
Você fala do nervo fantasma? Não é isso. Doutora Carla já tinha me explicado.
Já me acostumei com essa sensação de sentir as pernas abaixo dos joelhos. É por
causa dos nervos, né?
—
Sim. O que foi então?
—
Sei lá. Parece que algo vai acontecer. Mas em um asilo em que o mais novo já
passou dos setenta, acontecem coisas com frequência, não é? — Riu,
irônico.
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No
dia seguinte, Firmino cumpria seu plantão de madrugada, quando Zeferino chegou
a seu posto.
—
Tudo bem?
—
Firmino, acho melhor dar uma olhada no capitão.
Firmino
chega ao quarto de Antonio. Vê Quico sentado ao pé da cama, olhando o idoso,
que parece muito silencioso.
O
enfermeiro tenta acordá-lo e não consegue. Afere a pressão, sente o pulso e
abre seus olhos, para verificar as pupilas. Liga para doutora Carla, que também
morava em uma casa no terreno do asilo. Mas já comunica ao idoso:
—
Sinto muito, Zeferino. O capitão se foi.
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A
morte de uma pessoa próxima nos faz refletir sobre a nossa própria morte, que
cada dia se aproxima mais. E em um asilo, esse tipo de reflexão é frequente.
Alguns
dias depois, porém, a serenidade parece ter voltado ao lugar.
—
Qual a média de mortes aqui? — em dado momento pergunta Firmino a Carla.
—
Cinco ou seis ao ano.
—
Mas como sempre chegam pessoas, então a população se mantém na faixa dos 30?
—
Exato. — Ei, e esse gato?
Quico
cruzava a porta. A médica, dona do asilo, até aquele momento ainda não o vira.
—
É meu. O resgatei após aquela tempestade do mês passado. Deve ter perdido a
mãe. Não se preocupe, está vacinado.
O
gatinho passou de volta em frente à sala onde conversavam, e entrou no quarto
de Zeferino.
—
Ei, Quico! Veio me consolar?
O
gatinho aproximou-se do homem, que vestia uma camiseta com a foto de Laika, a cadelinha
russa que orbitou o espaço – estampada.
—
Não se preocupe com a foto, não vai te morder. — e pegou o animal sem resistência
deste.
À
noite, Firmino tenta levá-lo para sua casa.
—
Deixe ele aqui — pediu — eu cuido dele.
—
Tudo bem. Boa noite.
No
dia seguinte, Quico continuou na companhia de Zeferino. Saía do quarto apenas
quando o idoso também saía. Os outros achavam graça da situação.
—
Gatos são assim mesmo. Ele se acha o dono do pedaço, cada hora escolhe uma companhia
diferente. E Firmino que se cuide, se descuidar, é o gato quem o expulsa daqui
— gracejou Afonsinho.
Após
o almoço, a maioria dos idosos tirava uma sesta. Firmino tinha alguns minutos
de sossego nessas horas, e gostava de acompanhar o noticiário. Viu quando Quico
saiu do quarto de Zeferino, sozinho. O velhinho não o acompanhou, como de costume.
Firmino achou estranha a ausência do homem, era o único que ficava na sala de
televisão, geralmente acompanhado de um livro de autor russo. Nos últimos dias,
se deleitava com uma nova edição de Anna Karenina.
Foi
verificar a situação e encontrou na entrada do quarto, no chão, o clássico de
Tolstói caído. Zeferino estava deitado desajeitadamente na cama. Morto.
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No
dia seguinte, ao voltarem do cemitério, Carla chamou Firmino para sua sala.
—
Você me disse que Antonio e Zeferino passaram suas últimas horas de vida com o
Quico.
—É
verdade.
—
Pode não ser coincidência.
—
Você acha que o gato pode estar doente?
—
Não é isso. Veja só. — disse Carla, abrindo a internet em seu computador.
Surgiu na tela uma notícia. — Essa notícia trata de um gato, que vive em um
hospital dos Estados Unidos. Ele vive circulando pelos corredores, e quando
resolve ficar o tempo todo com alguém, geralmente a pessoa morre em menos de
dois dias.
Firmino
franziu a testa. Não sabia o que pensar.
—
Firmino, acho que existe a possibilidade de que as pessoas, ao iniciarem o
processo de morte, emitirem determinados odores, agradáveis para alguns gatos e
só perceptíveis para eles. Talvez seja por isso que Quico escolheu ficar com
Antonio e Zeferino nos últimos momentos de vida deles.
—
É muito estranho, mas faz sentido.
—
Firmino, nossos idosos não sabem desse fato nos Estados Unidos e também não
fizeram essa associação com o Quico. Acho melhor nada falar com eles, para não
criar apreensão se o gato escolher a companhia de alguém.
Firmino
concordou com a médica. E foi com discrição que os dois observaram a súbita
amizade entre Quico e Sílvia, e as consequências de tal fato para a velha
senhora...
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Naquela
noite, já dentro da casa em que ocupava, Firmino distraiu-se com a internet.
Estava só, pois Quico permanecia nos corredores do asilo. No início da manhã, acordou
com barulho de passos miúdos. Era o gato, que entrara no seu quarto, aproveitando
a porta destrancada.
Quico
aproximou-se, querendo o carinho do dono, algo que não pedia há alguns dias.
Encarou Firmino e seus olhos felinos sorriram.
Firmino
fez o mesmo, sem receio. Alguém no quarto também perceberia um sorriso discreto
no rosto do enfermeiro.
Alguns
segundos se passaram.
E
caiu morto: o gato.
domingo, 30 de julho de 2023
Rio de Contas (BA)
Visitamos Rio de Contas em julho de 2023, permanecendo apenas dois dias na cidade, na Pousada Portugal.
Conhecemos apenas a área urbana, espero voltar logo para conhecer as cachoeiras da região.
A história de Rio de Contas é rica e antiga, sendo habitada inicialmente por ex-escravos fugidos, sendo registrada sua existência em 1681.
O lugar foi posteriormente batizado como Pouso dos Creoulos.
Mais tarde começou o grande desenvolvimento da localidade, com a descoberta de ouro, em 1710.
Em 1745, o vice-rei André de Melo e Castro transferiu a sede da vila da atual Livramento de Nossa Senhora (que englobava a atual Rio de Contas) para o Pouso dos Creoulos, sendo a nova localidade a primeira planejada no Brasil. A antiga sede da vila sofria com enchentes frequentes, daí a mudança.
Datam dessa época a construção de edificações ainda hoje presentes, como a igreja matriz, a igreja de Sant`Anna, o antigo fórum (hoje ocupado por secretarias municipais). Outra edificação de destaque, mas mais recente, é o mais antigo teatro da Bahia ainda de pé, o São Carlos, edificado em 1892.
Rio de Contas tem muitos prédios tombados pelo IPHAN (que possui uma sede na cidade) , e lembra muito outras cidades como Pirenópolis, Paraty e Ouro Preto.
Após a decadência da mineração, em 1800 , a cidade viveu um período de decadência , agravada à partir de 1840 quando foi descoberto diamante em Mucugê, fazendo que parte da população se mudasse pra lá.
Em 1885, a vila foi alçada a condição de cidade.
Há algumas décadas sua grande fonte de renda é o turismo, por estar inserida na bela Chapada Diamantina.
Neste vídeo, alguns desses pontos foram mostrados, incluindo fotografias do altar e da pintura de teto da igreja matriz.